CRÔNICAS

  Às vezes, no cotidiano observamos diferentemente um acontecimento, uma lembrança, um comentário: segue-se  então a reflexão, a crítica, o humor... melhor registrar: nasce uma crônica!

 "As palavras voam, os escritos permanecem." (Provérbio latino)





IN
GRATIDÃO

Certa tarde recebi o telefonema de minha mãe: “ __ Filha, venha até aqui, quero te entregar um anel muito bonito que é teu, estava guardado em minhas coisas”.
Depois de dez anos de casada não me surpreendia o fato de mamãe ter consigo coisas minhas, pois é daquelas mães capazes de guardar pequeninas recordações, desenhos, cartõezinhos, uma avaliação dos primeiros anos escolares... Mas um anel?  Eu não costumava usar anéis... Demorei algum tempo para acostumar-me à aliança.  No entanto, ultimamente até que gostaria de usar uma meia-aliança ou um ‘aparador’ - pensei.
Com tanta curiosidade, não me demorei, moramos à pequena distância, bairros vizinhos.
Quando, depois de nos cumprimentarmos, ela entregou-me o anel fiquei encantada!  Era uma meia-aliança prateada com pedrinhas imitando a brilhantes.  Coloquei no dedo e contemplei-a demoradamente, então disse: “Mãezinha, esta aliança é muito bonita, mas a senhora está enganada, nunca foi minha.”.
Com um sorriso carinhoso, contou-me a seguinte história: “Teu irmão recebeu esta aliança como pagamento de uma dívida e então lhe presenteou.  Você, na ocasião, agradeceu-lhe, mas confessou-me não ter gostado nada da aliança, tinha pedras muito grandes - achava você - nem combinava com sua aliança de noivado.  Disse-me que ficasse com a aliança, que não dissesse ao mano nada a respeito, se quisesse poderia dar a outra pessoa, pois você não a usaria.   Guardei-a todos esses anos - acrescentou mamãe toda cuidadosa -  já estava até esquecida dela, mas hoje, organizando umas fotos antigas e pequenas lembranças amontoadas encontrei-a!  Eu não poderia usá-la nem jamais dar a outro alguém: é tua minha filha!
O brilho daquelas pedras, que agora já me pareciam tão delicadas, junto à beleza daquele momento que se me revelou tão singular fez-me chorar... Abraçada a ela orei agradecida:

___Querido Deus, obrigada por seres depositário fiel de tantas bênçãos conquistadas por meu irmão Jesus Cristo na cruz.  Obrigada porque Tu somente entregar-me-ás, quando eu puder contemplá-las com o real valor e a beleza que cada uma possui.  Pai, sei que tens muitas bênçãos reservadas para mim.   Sensibiliza-me para que alcance a graça de recebê-las e que possam ensinar-me a contemplar, pelos olhos da fé, o valor supremo chamado “Sacrifício de amor” até que por sua graça  possa receber a coroa da vida!
Amém


(Elaine B. Corrêa Leite  - 2001 ) 





Meu tipo inesquecível

IMITA  AÇÃO

Quando cursava a segunda série do Ensino fundamental, hoje 3º ano, achava minha professora um pouco chata.  Ela estava grávida e mastigava noz moscada para melhorar os enjoos.  Nós alunos, caçoávamos dela.  Toquei a imitá-la, mas a tal bolinha era muito amarga.  Como ela conseguia roê-la sem nem fazer careta?  Resolvi com pequenas pastilhas de hortelã, aquelas branquinhas da “Garoto”, o meu problema. 
Achava o máximo colocar uma das mãos, voltada para trás, na cintura, como ela fazia para dar bronca, mastigando noz moscada, digo: pastilhas... Definitivamente eu a achava chata.  Mas ela conseguia olhar-me com admiração e severo respeito.  É claro que eu só a ‘remedava’ distante daquele olhar profundo, o qual aprendi a respeitar.
Depois a Maronita Dias Dourado  voltou a ser minha professora, na quinta série, ”Moral e Cívica” era a disciplina.  Já não estava mais grávida é claro, porém estava mais enjoada do que nunca! (Ou eu é quem estava mais adolescente do que antes?!)  Insistia para que refletísssssemossssss, e puxava o “S” assobiando longamente.  Eu não a compreendia... Respondia às atividades superficialmente...
Precisou que se passassem muitos anos para que eu descobrisse o quanto aquela mulher era especial, o quanto fora competente e acima de tudo: o quanto foi paciente com tantos alunos, que como eu não soubemos valorizar e mesmo agradecer o seu empenho...
Outro dia eu pude assistir à última aula dessa grande mestra, não foi em uma escola.  Muitos foram avisados de ultíssima hora! Comparecemos: ex-alunos, amigos, familiares, irmãos de fé... Foi uma aula tão diferente!  Ela não pronunciou mais nenhuma palavra... No entanto continua ensinando, mesmo depois de já não estar entre nós;  nessa “Aula da Saudade” compreendi que não devo desanimar-me na árdua tarefa de ser professora: as aulas mais indeléveis não são as chamadas “aulas diferentes” , mas aquelas que trazem uma “lição de vida”! 

Elaine Batista Corrêa Leite
Ex-aluna da Escola Municipal Anhanguera
1979 - (2ªsérie)
1982 - (5ª série)
Atualmente: professora












 “ ... O tempo é algo que não volta atrás.
Por isso plante seu jardim e decore sua alma,
Ao invés de esperar que alguém lhe traga flores ...”

(William Shakespeare)


O presente

Foi no dia do aniversário da filha primogênita.   Ele carinhosamente saiu pelas ruas a procurar-lhe um mimo.  No alto de seus quase oitenta anos ainda encontrava disposição para fazer essas “travessuras”.  Ancião extremamente  lúcido, antenado com as mudanças políticas e econômicas, memória excelente para guardar carinhosamente o aniversário de seus queridos, ele entregou então à filha, após extenuada jornada, um lindo botão de rosa vermelha.
Ela com extrema sensibilidade agradeceu-lhe a singeleza, demonstrou preocupação pelo excesso cometido: determinadas caminhadas a certos horários para essa turma desdobra-se em múltiplos perigos.  Ah aventuras,  perigos... são traços marcantes na vida deste senhor teimoso que insiste  em ser menino, de coração é claro.  O corpinho já não  atendia as suas solicitações pueris.  Mas ele, sorria com a certeza do aventureiro que, mais uma vez, transpusera um grande obstáculo. 
A filha estava envolvida em cultivar um jardim na  sua nova casa e então resolveu plantar o presente.  Muito zelo, rega e nada do botão se abrir, ao contrário murchava a olhos vistos.  Bem de perto ela pode observar que havia um durex envolvendo a parte mais alta do caule e resolveu tirá-lo, pois imaginou que aquele intruzo atrapalhava o desabrochar da rosa. Então o botão simplesmente caiu! Sim ele fora colado, acreditam?  Ela ficou indignada, quem teria tido a coragem de fazer tal desfeita com a singular pessoa de seu esforçado papai?  Que fez então?
Mesmo imaginando que esse fator atrapalharia, ela continuou a regar, zelar e a desejar ardentemente que viessem os brotos.  Observando o acontecido achei profundamente  singular, poético até:  em seu jardim havia tantas mudas de plantas recém compradas, algumas talvez mais caras ou raras do que o botão vermelho, mas pelo amor com que esses dois seres, um demonstrando e outro recebendo, nutriu àquele  botão, o  caulezinho enfim brotou... e cresceu.  Foi depois transplantado para um vaso de cerâmica em forma de bota. 
Eu já tinha as minhas suspeitas, mas hoje liguei para uma floricultura e, justificando que era uma pesquisa,  perguntei:  Qual a possibilidade de nascer uma roseira a partir de um botão de rosa desses que vocês vendem? A moça respondeu: nenhuma, é necessário que se faça um enxerto.
Hoje aquele papai tão querido não está mais  por aqui para aprontar mais uma das suas peripécias! A roseira está lá, toda imponente e florida.  Símbolo da força do Genuíno amor, que diariamente lança suas sementes e depende de que sejamos terrenos férteis para acolhê-las e as alimentemos com fé a fim de nos alegrarmos com suas flores e frutos.
(Elaine Batista Corrêa Leite- setembro/2011)
João Leite de Matos,  Eliane Matos de Oliveira e é claro, a roseira de que vos falei 



Acuados
Sexta a noite, chego em casa, e, pouco antes de mim, entra um pássaro maldito dentro do prédio. Subindo, na maior, a escadaria. Eu, já prevendo tudo, disse comigo mesmo, não acredito nisso! Enquanto tento subir os lances de escada ele vai ficando acuado e voando, “subindo os andares”. Até aí tudo bem. A não ser pelo fato de que meu apartamento fica no    último andar. Não era um passarinho. E também não chegava a ser uma coruja. Só sei que era um pássaro grande muito esquisito.Não sei vocês, mas não aprecio muito estar encurralado num lugar sem grandes janelas com um bicho voando em cima de mim. Só consigo pensar nele furando meu olho, paranoia! Até o dito cujo sair da frente da porta do meu apartamento foram uns maus bocados. Bolinhas de papel, xô's, momentos de tensão enquanto ele voava se debatendo. Eu, pelo telefone, recebia orientações de Thaís Bernal e Rodrigo Andrade para jogar a mochila nele dentre outras coisas esdrúxulas e muitas, muitas risadas. A Mochila estava pesada e eu não intencionava matá-lo.  Estava era com dó dele. O bichinho, encurralado, morrendo de medo de mim. Pior é que a janela não estava toda aberta mas dava pra ele passar. Antes de eu conseguir chegar na minha porta ele pousou na janela até. Nesse momento tentei ajudá-lo a sair do labirinto de escadas, enxotando em direção à janela.  Só que ele voou pra cima e continuou se debatendo, coitado!  Entrei no apê e depois ainda fiquei tentando indicar pra ele o caminho, jogando bolinha de papel pra ver se ele, voando, sentia a corrente de ar etc e saia pela janela que abri ao máximo, mas ainda sim era pequena pra ele. Por fim, deixei de lado porque vi que ele estava ficando muito assustado, super cansado, e fui dormir. 
Só sei que, as meninas do 302 vão levar um baaita susto amanhã quando forem sair. Só vou ouvir os gritos. Aliás, não os ouvirei estarei dormindo, com certeza absoluta.
(luís Gustavo Batista Leite -Cotidiano em Petrolina-PE -09/2011) 











Biografia de papai

Um Homem único e uma figura complexa, talvez pelo norte que o destino lhe infligira desde tenra idade. Inteligente, vivaz e com uma cultura expressiva a despeito do pouco estudo,  ansiava mais do que pôde realizar, mesmo assim cumpriu sua missão de forma valente,  aos trancos e barrancos, talvez sem muita gente acreditar que um menino fugido de uma quase escravidão, no que acredito ter sido o seu primeiro e único furto( um barco para se lançar no mundo, encontrar sua mãe e os seus) fosse se tornar alguém na vida. Quem visse não acreditaria, mas errando e acertando como todos nós,  ele venceu,  sempre revestido da sua tão propagada honestidade,  que foi o seu bem e legado mais preciosos.  A sua marca registrada  era  a  inexorável  vontade de viver,  que até o fim não cessou, apenas suas forças foram vencidas e sua vida exarada num  domingo de páscoa, não por falta de combate da sua parte,  mas  simplesmente pelo esgotamento de todos os recursos médicos. A idade não era pouca e os males oportunistas, depois de uma cirurgia inevitável,  o enfrentaram em uma batalha desigual, que se fosse um cabo de guerra, estaríamos nós lá para o puxarmos para o lado da vida, mas infelizmente nem sempre é possível  fazer isto.  Para ele esse ocorrido sempre teria sido adiado, pois nunca teve a intenção de se entregar e amava a vida mais a cada dia.  Desesperava se com a idéia de ceder às limitações que o tempo impõe a todos,  e a ele ultimamente de uma maneira mais incisiva. Talvez essa dificuldade de aceitar as barreiras da idade, tenha sido o seu mais ardil inimigo. A sua maneira acelerada de viver o dia-a-dia era diversas vezes criticada por nós, filhos; esposa; irmãos e certamente por outras pessoas que o estimavam e lhe tinham cuidado, mas isso não o detinha pois queria viver a plenitude , e isso não se pode impedir,  até tentávamos quando a ânsia de viver o colocava em risco.                                                                                                                                                                                                           

Enfim eu teria mil coisas pra dizer a seu respeito, pois convivi momentos exclusivos com essa figura memorável e amada e que também amava a família. Compartilhamos momentos inesquecíveis em nossos “programas de índio” periódicos,  mas agora o que digo  na 2ª pessoa,  naturalmente  é para  meu Pai.  Papai,  apesar de ter certeza que já sabes disto,  gostaria de dizer que sofro muito pela tua perda física,  a perda da tua companhia e dos teus conselhos que nem sempre eu seguia, mas que me faziam refletir, e que muito embora este  sofrimento  seja apenas pela tua falta em nosso meio, fica a imensa e eterna  alegria e um desmedido orgulho de ser teu filho para sempre.
Cícero Matos de Oliveira .


Brasília, 24 de abril de 2011.











O ônibus




        Deslocava-me para casa, no horário de almoço, quase 13:00hs da quinta-feira. 
     Corri para acessar o ônibus que me levaria ao Setor Universitário em Goiânia, não consegui entrar naquele veículo e sim no primeiro que encostou logo atrás.  Vi-me ao lado de um rapaz com aparência de uns 20 anos, portava uma bíblia de capa vermelha, falava de Jesus.  Não estava mal vestido, não denotava desleixo nem doença. Pensei que fosse um recuperado ou recuperando de tóxicos que logo pediria uma contribuição para alguma Instituição.
     Para minha surpresa após algumas citações bíblicas o jovem explicou que na infância fora acometido por uma doença neurológica que o limitou para o aprendizado, masque foi curado e converteu-se , pois  teve um encontro com Jesus aos 16 anos, complementou dizendo que hoje é profissional formado na área de Educação Física, atuando como professor e personal trainner e costuma aproveitar para falar de Jesus no ônibus! Em menos de 15 minutos, aquele jovem deu o recado!
     Naquele momento, fiquei constrangido... enxerguei o amor desinteressado, gratidão, altruísmo... não tive vergonha do rapaz, tive vergonha de mim, porque nunca tive coragem de elevar a minha voz publicamente e, para pessoas desconhecidas e indiferentes, para dizer que ao longo de minha vida tenho passado por encontros com Jesus.  Falar das muitas bênçãos recebidas, dizer que Deus tem colocado pessoas maravilhosas ao meu lado ao longo dos, tanto zelo, carinho anos, contar para todos que quando fiz cirurgia de correção visual, percebi a interferência de Deus para que o resultado fosse satisfat´rio, afinal fui praticamente "cobaia" de uma nova técnica cirúrgica na época. 
  Incontáveis vezes passei privações e Deus providenciou suprimento, zelo, carinho, bênçãos sem fim. 
     Percebo, através desta experiência no ônibus, minha ingratidão, minha omissão em não dizer o quanto Deus é bom e o quanto Ele tem cuidado de mim. 
é verdade que esporadicamente, com quem convivo, compartilho algumas bênçãos, são de fato incontáveis, mas é muito pouco diante do quanto tenho recebido!
Sendo assim, participo com vocês, que ao longo dos anos, nos acertos e desacertos do caminho, tenho visto claramente a intervenção de Deus, providenciando, zelando com muito carinho...  abrindo portas, proporcionando inclusive provações e aprendizado... Porque Ele ensina a quem ama!
     Talvez eu nunca chegue a "soltar o verbo" dentro de um ônibus , como faz aquele corajoso rapaz em seu horário de almoço, mas estou utilizando outro mecanismo de comunicação e lanço um desafio para VOCÊ, tente fazer uma lista das bênçãos que Deus tem derramado sobre sua vida!, Faça este desafio a sua família também. Terão um trabalhão, mas poderão aproveitar para uma reunião em Ação de Graças. 

(Fábio Gomes Corrêa )

 


O Quebra-cabeças da vida

Ganhei de um amigo, há 2 meses, um quebra-cabeça de 1500 peças. Eu não montava um quebra-cabeça desde que era criança. É engraçado como nós deixamos de fazer certas coisas quando crescemos: quebra-cabeça, colorir, brincar com bonecas, pular corda, pique de esconder...
Coisas que nos trouxeram tanta alegria quando criança e nós paramos de fazer quando alcançamos uma certa idade. - É uma vergonha, não é? Devo admitir, eu realmente aproveitei o quebra-cabeça, embora muito frustrante à vezes, era um bom desafio. Cada vez que eu achava uma peça que se encaixava, era extremamente recompensador.
Bom e daí?
Você já percebeu quantas semelhanças existem entre um quebra-cabeça e a vida? Num quebra-cabeça cada peça é parte muito importante no grande quadro, na vida são as pessoas e os acontecimentos as partes importantes.
Como peças de um quebra-cabeça, cada um de nós é único, especial em seu próprio jeito. Embora semelhantes não há dois iguais. Ironicamente são nossas diferenças que nos fazem “encaixar”, enquanto eu trabalhava no quebra-cabeça havia uma peça que eu estava certa de pertencer à um ponto em particular.
Mas não encaixava.
Acabava voltando a ela tentando encaixá-la, me esquecendo que já havia tentado. Eu tinha meu pensamento focado no fato de que eu sentia que a peça era daquele espaço. Penso em quantas vezes eu fiz a mesma coisa em minha vida, tentando fazer acontecer coisas que simplesmente não eram para ser. Tentava várias vezes, chegava ao ponto de forçar, mas não era para ser, e nada do que eu fiz mudou isso.
Se você já montou quebra-cabeça sabe como é perder tempo procurando um pedaço específico, de repente parece tão óbvio...mas eu não conseguia achar, consegui foi embaralhar ainda mais as peças. Fiquei frustrada e decidi deixar para lá e ficar longe dele, quando voltei mais tarde achei a peça imediatamente, estava bem na minha frente desde o começo.
Minha vida foi assim muitas vezes, tentava entender por que certas coisas aconteciam e do jeito que aconteciam, procurava as respostas por todos os lados e às vezes as respostas estavam bem na minha frente. Era só dar uma paradinha, um pequeno passo atrás, respirar e acalmar que as respostas me encontravam.
Olhando as peças deste quebra-cabeça eu penso nas “peças” da minha vida: minha família, meus amigos, acontecimentos, marcos e celebrações. Uma mistura de bom e ruim, alegria e lágrima, felicidade e tristeza. Penso em todas as peças que imaginei sem importância e sem propósito.
Reflito em todas as peças que em minha vida me fizeram perguntar....
“Porque, meu Deus?”...
“Porque isto?”
E repentinamente percebi que por causa dessas peças, outras peças se encaixaram tão bem, tudo em nossa vida acontece por uma razão. Cada acontecimento, bom ou mau, é como uma peça do quebra-cabeça. Deixe uma peça de fora e se quebra a harmonia inteira do produto final.
Talvez ainda não possamos entender o papel importante de cada peça em nossa vida, ainda existem muitos buracos e o quadro ainda não está claro, mas sei que quando minha viagem nesta vida estiver concluída e a peça final estiver em seu lugar, eu entenderei. E serei capaz de ver o quadro completo e a beleza de cada peça.
Até lá eu continuarei a viver com fé. Sabendo e confiando que todas as peças que eu preciso estão aí, e que é só uma questão de tempo até que se encaixem bem. Lembrarei de que há um grande quadro, um plano para mim, e que sou incapaz de ver agora.
Acreditarei que cada peça em minha vida, mesmo as dolorosas, têm propósito e cumprem papel importante. E quando estiver fraca, procurarei força pela oração. Farei isto até que a obra-prima de Deus em mim estiver finalmente completa, e Ele então cochichará...
“Muito bom? Está Feito!”


Por Amy Toohill

   




Conto da sogra  

Era uma vez uma menina muito pobrezinha, morava num sítio distante com os pais e muitos irmãozinhos... Uns menores, outros maiores que ela...

Enquanto estava no alto das fruteiras, sonhava com lindos vestidos, sapatos deslumbrantes, perfumes requintados, banquetes adequados ao seu apetite infantil.
Quando de volta descia era requisitada para algum serviço doméstico.
Com o passar do tempo o serviço só aumentava e a falta de recursos também. Então a jovem garota foi enviada à casa de uma madrinha, vislumbrando melhores dias. Qual nada, agora já não tinha nem a oportunidade de subir às fruteiras e sonhar... Vez ou outra quando retornava à casa paterna voava ao refúgio dos sonhos.
Houve um dia em que passou por ali um homem diferentemente interessante e engraçou-se da menina-donzela, logo a desposou.   E antes que você pense que a tradicional frase "e eles viveram felizes para sempre" feche esse conto, estão muito equivocados: a história agora que começou:
A jovem senhora agora tinha um pouco mais de estabilidade financeira, mas nem tanto: Logo vieram os rebentos: um, dois, três, quatro! - Ufa! Quando a menina-mulher se deu conta, queria mesmo era brincar novamente, tudo acontecera tão rápido! Pareceu-lhe ter realizado parte do sonho, mas logo pensava: nem tanto!
Os anos se passaram: crianças, mudanças, andanças, idas e vindas: venturas e desventuras: isso é o que eu sonhei para mim?
Aos olhos da senhora-menina os anos voaram... Mas ela não estava mais no alto das fruteiras sonhando;  também não gostava, muitas vezes, da situação em que se encontrava;
Depois de muito observar e de tanto refletir, já havia agora sulcos em seu rosto, prateados fios na cabeleira a ressaltar, ponderou: "A vida só vale a pena quando é entretecida dos fios dos sonhos, nas agulhas da realidade!".
Não deixe de observar em cada detalhe do seu cotidiano que o milagre da vida acontece, ainda que seus sonhos não se concretizem da forma como você os idealizou, não perca a sensibilidade de observar em cada detalhe a beleza do momento presente: ele é real e pode ser adornado com a alegria e com a gratidão de um coração que é sensível para reconhecer nos menores gestos as maiores expressões de amor!
Finalmente a Mulher-menina descobriu que todas elas podem conviver em harmonia: A menina que sonha, A jovem que conquista, A mulher que luta A senhora que reflete.
Sim porque é impossível voltar ao passado e fazer reparos! Ele deve existir não como um algoz que nos acusa, nem como um doce lugar de refúgio, mas  como contos, fábulas, crônicas: histórias que nos trazem lições nos fazendo rir ou chorar: temos histórias para contar! É possível vislumbrar muito mais dos nossos sonhos realizados nessas histórias do que percebemos quando não nos dispomos a simplesmente contar...

Os sonhos no coração alcançam maiores vislumbres que os de criança
Os medos e decepções podem ser controlados pela jovem perseverante e corajosa,
As batalhas de cada dia serão, com maturidade e destreza, travadas pela mulher revestida da armadura da fé;
As conquistas fortalecerão a senhora, que já sem muitas forças físicas, busca de joelhos sabedoria na leitura da palavra para, muitas vezes aceitar o incompressível e encontrar forças nos momentos de fraqueza para louvar!
Todas devem e podem conviver harmoniosamente ensinando-se, respeitando-se, amando-se, aceitando-se mutuamente.
 (Elaine Batista Corrêa Leite - homenagem à Vanda Leite de Oliveira em 14/02/2 011 )





Lições de uma mestra


Era assim, com o olhar tranquilo e atento que me ouvia, não só a mim, a cada um de forma singular... Sua prontidão era igualmente especial para com os pequenos.
Sentadinha no seu inquietante mundo interior contemplava placidamente o mundo à sua volta. Tão diferente: pessoas frenéticas, imagens, sons... Movimento: apesar de sentir-se deslocada era a figura da quietude... filosofando, que será a vovó filosofava?  Quando perguntada respondia simples e sorridentemente: “Nada não beim!”
Muitas vezes quando levava meus pequenos para receber-lhe a benção apavorava-me com o barulho e brincadeiras dos três maiores, enquanto no colo um outro queria saltar para completar o espetáculo.  Preocupada me desculpava com o anjo, e ela: “Dêxa bein, a vovó não importa, não...”e contemplava as crianças com candura, sorvendo-se da alegria da infância refletida na face marcada pelo tempo.
Resolvi entrevistá-la: mãe de 14 filhos, como conseguira, ainda agora “tolerar” a barulhada dos bisnetos? Vó Londina, perguntei finalmente: Como é que a senhora fazia para cuidar de tantas crianças pequeninas? E ela sem a menor alteração: “Ué Laina, os maiorzinho ajudava a cuidar os outros e cada um cuidava de si mesmo... brincava no terrêro o dia todo, ajudava na lida da casa, quando era de tardinha uns tomava banho outros eu já encontrava durmino pela casa, aí só no outro dia... e era assim bein, era uns menino tão bonzim... e o João Paulino me ajudava também.”
“Vovó e então, conta mais um pouco de sua histórias” querendo perscrutar-lhe os segredos; e ela olhando calma e sorridentemente respondia:
- Ô bein, eu num tenho leitura! - Numa doçura inocente tão infinita que eu jamais saberia descrever; você tinha que ver...
Senti-me envergonhada vendo exprobada assim, tão inocentemente a minha ansiedade; de que adianta meu Deus, “ter leitura” se muitas vezes não nos dedicamos como mães ouvintes ou contadoras de história?... Mal ouvimos com a devida atenção um relato simples de um acontecimento “banal” dos nossos filhos? De que adianta tanta psicologia (teórica) sem a prática da filosofia?
E ela quando perguntada sobre as coisas da vida repetia: “Eu num tenho leitura bein” naquela sempiterna placidez de quem não clamava, apenas se desculpava: Sua leitura simples e natural da vida não se encontra nos livros... Estava nos seus gestos, na sua meiguice, e principalmente: no seu olhar.
Agradeço a Deus a oportunidade de breve convivência com a vovozinha do meu esposo. Essa é uma só, das muitas lições que ela me deu... As outras? A maioria em seu silencioso olhar, fica em nossos corações.
O trabalho e o asseio foram também, enquanto teve vigor, seus companheiros na longa jornada... Tinha uma discreta vaidade: estar sempre limpa, cheirosa... “Num guento essas muiê poica, bein, que bate a mão na rôpa e chuja tudo, num usa vental”
Dia 01 de abril essa meiga florzinha foi colhida do jardim... Já era quase nenhum o vigor... As dores e o cansaço pesaram... 
Descansa sábia vovozinha, suas lições estarão sempre nos corações daqueles que foram sensíveis o suficiente para enriquecer-se com a sua sabedoria de vida.

                                (Elaine B.Corrêa Leite - Abril - 2010 - Homenagem à vovó Londina )




Reencontrando-se

 Outro dia uma amiga contou-me que na correria do dia a dia, ao retornar para casa descobriu haver perdido justamente o papel que tinha saído para buscar.
O resultado daquele exame era imprescindível para que a documentação de  sua admissão em uma empresa se efetivasse.  Então ela orou  e, voltando pelo mesmo caminho procurou em cada cantinho, não só com os olhos, muitas vezes abaixou-se para conferir se não era “aquele” o papel que lhe pertencia... Após longa e exaustiva jornada precisou voltar a casa sem ter encontrado o que procurava.
Mais tarde, seu esposo pediu-lhe que fizesse um depósito bancário, ela prontamente  o atendeu.  Estacionou porém o carro em lugar que pudesse prosseguir caminhando; e novamente procurando em oração e ações, contínuas o tal papel... é ela ainda tinha esperança... o vento soprava, as pessoas passavam apressadamente os carros também...
Então ela foi inspirada a olhar para o interior de um portão, uma garagem, e lá estava o papel... como que guardado, esperando-a.
Ela contou-me isso com alegria indescritível, com gratidão singular de uma filhinha que reconhece o carinho de um pai ao guardar um simples papel, para a criança, um tesouro! Olhei para minha linda amiga e acrescentei: Vejo isso como um marco em sua vida... você está reencontrado seu “papel”; por algum tempo você esteve perdida, cuidando de tantos papeis: esposa, mãe, filha, avó,amiga, irmã... acabou perdendo o seu papel particular: mulher... acabou perdendo um pouco da credibilidade em si mesma, em sua profissão... mas o Senhor a encaminha a partir desse momento!
Choramos juntas agradecidas por aquela lição, que agora compartilho com você amiga, que talvez também tenha perdido algum dos seus muitos papeis, ou ainda se encontre perdida em meio a todos eles...
O Senhor quer ajudá-la a encontrar esses “papeis” o Senhor quer restaurar os seus sonhos, você estaria disposta a fazer umas caminhadas com Ele? Retornar olhando, abaixando-se, acreditando e persistindo?
Com certeza se nos dispusermos encontraremos onde está guardado o nosso “tesouro”, a nossa “esperança”, a nossa “carta de mudança”,a nossa “autorização” para uma nova capacitação, para seguirmos adiante com coragem revestidas para novas batalhas que virão...sim, é claro, antes delas impossível as vitórias!

                       
Elaine          (outubro 2010)


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